Negro, sem preconceito

‘Não sou mais, nem menos, apenas um ser humano’, diz o itaperunense Anderson

DORNELAS, E. S.

Novembro, Edição 11, 2016

ITAPERUNA, RJ – Infelizmente, em pleno século XXI, a palavra ‘preconceito’ é constantemente manchete nos noticiários brasileiros, bem como em diversas outras partes do Mundo, seja preconceito racial, social, de gênero ou outros tipos. Durante a Semana da Consciência Negra, o Projeto Personalidades, através do jornalista Eusébio Dornellas, conversou com o jovem Anderson Souza.

“Não sou mais, nem menos, apenas um ser humano”, diz o itaperunense e administrador de empresas, Anderson Luiz de Souza, quando questionado sobre essa temática. Aos 37 anos ele relata momentos de sua vida, pequenos fragmentos, que revelam a vida de um cidadão que busca um lugar ao Sol, superando barreiras e obstáculos e, o preconceito. “São tantos os obstáculos, mas, já me acostumei a superá-los”, diz. 

Quando criança, Anderson recebera o apelido de ‘Neguinho’, mas, isso nunca o incomodou. Itaperunense nato e um apaixonado por esta terra, é marido e pai de dois filhos. Seus pais, Ana Maria e José Luiz, além de um irmão (mais velho), todos membros da comunidade Cristã Católica. “Não diferente da maioria das famílias negras do Brasil, somos oriundos de uma família pobre, meu pai, pintor profissional; e minha mãe, lavadeira. Esse é o núcleo familiar e religioso que me deu os primeiros ensinamentos para viver em sociedade”, conta.

De acordo com Anderson, contar a própria história sem se lembrar dos motivos que o fizeram mover no sentindo contrário dos números estatísticos da violência e da criminalidade, junto à comunidade negra e pobre, seria ocultar a própria história. “Credito aos meus pais os méritos do plantio de valores morais, éticos e religiosos na minha infância, pois, foram com eles que sempre balizei minhas tomadas de decisões”, revela.

E a primeira decisão foi logo cedo, no inicio da pré-adolescência, quando a mãe disse que já não poderia pagar as roupas que ele queria escolher. “Ela me chamou e disse que eu teria que trabalhar, pois, ela não conseguiria comprar as roupas que eu desejava. Foi a melhor coisa que me aconteceu, porque assim, fui construir o meu ganho. Catei latinha pra vender, tomei conta de crianças e fiz outros bicos, para que eu tivesse condições de comprar minhas roupas”, lembra.

Com o passar dos anos, crescendo e amadurecendo, tornou-se um jovem adulto, ainda com alguns paradigmas e estereótipos que aniquilam e precisavam ser superados. “Isso se deu com a chegada de um amigo à universidade. Convivendo com ele, percebi que eu também poderia ter um curso superior e viver aquela experiência de um novo ambiente. Já inserido profissionalmente no comércio local, pude ter muitos aprendizados, além de bons amigos e relacionamentos”, completa Anderson. 

Conseguiu entrar numa faculdade e depois de muita luta, formou-se em Administração de Empresas. Logo em seguida cursou gestão pública e os sonhos foram se ampliando. “O horizonte se abriu, despertava em mim um desejo de mudanças e encontrei na administração pública um desejo missionário de servir. Tive a oportunidade de fazer parte dos quadros da administração municipal, iniciando esta jornada da maneira bem simples, onde trabalhei como servente. Também fui nomeado diretor Administrativo da Secretaria Municipal de Educação e posteriormente secretário, além de presidir o Conselho Municipal de Educação no mesmo período”, conta.

O ‘Neguinho’, que ficou lá na infância, no fundo no fundo, não se importa com apelidos. Realmente experimentou dissabores, mas, experimentou também muitas realizações e superação. “Vivi momentos de discriminação, desconfiança e até mesmo de descrédito. Tenho esperado a resposta certa de Deus e, tenho ainda, exercitado o dom de descansar no Senhor. Quero, a cada dia, olhar para a minha vida e ter a certeza de que combati o bom combate. Como disse no início, não sou mais, nem menos, apenas um ser humano, com seus defeitos, virtudes e sonhos, muitos sonhos. Que venha o amanhã, com um dia iluminado para todos, negros, brancos, amarelos, pardos, índios… Todos, sem preconceito”, finaliza.

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